No seu improvisado laboratório, nos fundos da garagem, foi pensando na ideia fundamental: criar um único produto que substituísse as armas de fogo (pistolas, espingardas, etc.), os bastões, até eventualmente os aviões e os navios de guerra. A ideia parecia-lhe de tal forma fantástica, que convocou o Conselho de Rua. O Conselho de Rua, eram os seus vizinhos e amigos de rua: O Valter, 12 anos, 70 quilos, caixa de óculos e especialista em materias. Famoso por transformar os aparelhos lá de casa em coisas de utilidade duvidosa, o seu último grande trabalho, trata-se de construir o motor para um barco a partir de uma máquina de lavar roupa. A Joana, 11 anos, conhecida por Palito, a mulher dos computadores, domina tudo o que seja informática. Ganhou fama na escola, por ter conseguido meter a matéria de todas as disciplinas do 5º ano num CD, que agora a escola usa para ajudar aos alunos nas aulas e no estudo em casa. Ana, 13 anos, a mais velha, a intelectual do grupo e está entregue à causa ambientalista. Por fim o Rodrigo, 11 anos e é da turma do Francisco. É o pirata do grupo, adora desportos radicais e pratica artes marceais. Lá na escola tem a alcunha de o Grito. - Bem isto é assim, a ideia é muito simples, trata-se de inventar um produto que melhore a segurança das pessoas. - Parece-me bem, que produto é esse? Pergutou o Valter. - Trata-se de um concentrado imobilizador, que uma vez disparado sobre o alvo, o imobiliza, tornando-o inactivo e inofensivo. - Já estou a ver, para ser usado pela polícia. Disse a Ana. - Sim, pelos militares e pelas forças de segurança em geral. - Ena, mas isso é fantástico! E que produto é esse? - Ranhoca!!! Responde o Francisco. - AAHH! - UUFFFF! - NHAAACC! - Ó puto, tu incomodas-nos por causa de uma ideia que mete ranho. Só visto, ouviram bem? Ranho!! - Esperem. eu explico isto melhor. O Francisco aos poucos, foi convencendo os companheiros de que pelo menos podiam tentar. - OK! Então mãos à obra. O Francisco foi definindo as tarefas de cada um e recolhendo o material necessário para o fabrico da primeira amostra de ranhoca imobilizadora. Foi buscar o Calisto, deu-lhe dois apertões e consegue extrair duas potentes ranhocas para dentro de um copo. - Rapazes, acho temos aqui matéria-prima suficiente para o primeiro ensaio. - Mas agora como é que tornamos isso mais espesso, para poder ser disparado? Intervem a Joana. - E é disparado como? Pergunta o Rodrigo, que quase de seguida aponta uma solução. - Olha, o meu pai tem uma máquina de lançar bolas de ténis, que não usa há muito tempo, podiamos tentar. - Perfeito! Vai buscá-la, enquanto eu vou ver de uma solução que funcione como cápsula para acondicionar o ranho. O Francisco voltou com um saco de balões de água, que tinham sobrado da sua festa de anos.Trouxe também uma varinha mágica, uma balança, um pacote de farinha, um saco de ervilhas congeladas, pó royal e gelatina. O Valter foi quem fez e registou as pesagens. - Como é que metemos essa coisa dentro dos balões? - Com uma colher. - Não dá! melhor que isso seria uma seringa grande. Disse a Ana. - Boa, acho que tenho uma em casa! E a joana saíu a correr. Depois de preparadas as munições, arrastaram o lançador de bolas de ténis até aos fundos do quintal e fixaram-no cuidadosamente. - Bom, e agora qual vai ser o nosso alvo? Perguta o Ricardo, enquanto coloca um balão de ranhoca no aparelho. - Olha pode ser o Calisto. - Estás doido, queres dar cabo da nossa fonte de recursos. - Por mim era o ordinarão do papagaio da vizinha Odete. - Calma, vamos começar por coisas simples, atiramos à árvore. Disse o Francisco. - Nem penses! Disse a Ana. - Vai joga isso a uma coisa qualquer! - Não se pode desperdiçar produto, tem de ser um disparo que nos permita tirar conclusões. Gera-se alguma desconcentração em volta do aparelho e sem que nenhum deles perceba como: Trooc . O aparelho dispara-se, as duas moças gritam. O balão de cor vermelha, com ranhoca do Calisto, atravessa cinco quintais e vai atingir o vizinho piloto que andava a cortar a relva. O homem, que era piloto da força aérea, tinha-se mudado há pouco tempo e não percebia o que lhe estava acontecer. Quanto mais o homem se tentava livrar daquele material pegajoso, mais preso ficava e outro remédio não teve senão começar a gritar por ajuda. Correu a mulher e correram também vizinhos, para o ajudar. Ninguém percebia o que era aquilo, o que tinha acontecido, a única coisa que viam era o homem envolto em ranho, colado ao corta relva e ao relvado. A solução foi chamar os bombeiros, pois o senhor começava a apresentar sinais de descontrolo e podia secumbir ali. O vizinho piloto deu entrada no hospital, não de maca, mas em pé, colado ao corta relva e em cima de um tapete de relvado. O ranho entretanto tinha secado, repuxara-lhe a pele e provocara-lhe lesões cutâneas equivalentes a queimaduras de 2º grau Largos minutos depois os moços respiraram. - Temos que rever a fórmula! Disse em tom baixo o Francisco. - Pois, e eu tenho que encontrar o manual de instruções do lançador. - Nós temos explicações e desculpas a apresentar. Disse a Ana, ao mesmo tempo que pensava que tinha sido melhor se atirassem à árvore Publicado por cravadinho em 01:01 AM | Comentar (0) QUE DESESPERO! O Francisco está desesperado. Roubaram-lhe a fórmula da ranhoca imobilizadora. Parece brincadeira, mas não é! É um caso muito sério, mete polícia e tudo. Uma descoberta simplesmente genial. Este puto com ar de quem está sempre nas nuvens, pegou na coisa mais tinhosa e pestilenta que tem em casa, o seu cão Calisto e arranca uma invenção capaz de parar o mundo, pela importância que tem para a humanidade. Foi muito simples, foi só pegar no mais repugnante e inútil dos produtos, o ranho, sim as ranhocas e dar-lhe a maior das utilidades. Há três dias atrás, tudo começava assim: A avó do Francisco, era uma velha respingona, que nunca estava calada. O seu alvo prefrido era o Calisto, que andava sempre ranhoso e deixava por toda a parte as mais verdes e peganhosas ranhadas. A avó, apesar da idade, era uma velhota bastante vigorosa, imagine-se que mesmo assim, teve enorme dificuldade em soltar-se de uma ranhoca que o Calisto sem querer deixou no tapete da entrada, enquanto dormia. Nesse dia o cão metia dó. A velha assanhada gritou tanto com o pobre bicho, que ele ficou na casota o dia inteiro. O Francisco estava aborrecido com os discursos do Pai: - Os marginais, eu lhes dava! carga policial é que eles precisam. Se não fosse à bastonada, ía a tiro. O cota ía gritando enquanto via a televisão e as habituais notícias sobre violência. - Ó pai tem dó, já viste quantas vezes os tiros da polícia atingem pessoas inocentes, batem e matam desgraçados que andam a roubar para sobreviver? - Ah sim, meu fedelho! Então já viste quantas vezes esses canalhas assaltam e agridem pessoas inocentes... Blá, blá, blá.... pensava o Francisco. Mas no fundo o pai também tinha razão. A ordem pública é importante para que a sociedade viva em paz. Enquanto o pai caía no resto de ranhoca espalhada no chão, o miúdo prega um salto e sai a correr para o computador. - É isso, é isso mesmo! Concentrado imobilizador. Ranhoca imobilizadora. Será que ninguém pensou nisto?! E enquanto vai gritando, liga o computador e abre vários motores de busca, primeiro o Google e nada, depois o Sapo, nada, ... o Clix.... e por aí fora e nada não encontrou nada na internet sobre ranhoca, ranhoca de cão, concentrado imobilizador. - Não acredito, ninguém pensou nisto! Será possível? No fundo a ideia era simples: em vez de tiros bastonadas e gás lacrimogénio, a polícia passava a utilizar ranhoca imobilizadora. - Pai, óh pai, paaaaiii! Mas o pai, já saira à pressa como sempre, a arranjar o nó da gravata e a tentar libertar-se dos restos de ranhoca. - Tenho que me livrar deste maldito cão, que porcaria. Ainda se ouviu, antes da porta do carro bater. - Também, quem é que se ía interessar por um projecto de ranhocas de cão. Ainda por cima, um cão achado, feio e ranhoso.