Na manhã seguinte, encontraram-se todos à porta do Francisco. Não comentaram uns com os outros mas notava-se que tinham dormido mal, até o Calisto, empoleirado nas grades parecia preocupado com o que tinha acontecido e com o que estava para vir. - Valter fizeste as pesagens correctamente? - Pergunta a Ana. - Sim, tudo tal qual como o Francisco me entregara! Após um curto silêncio. - Pode ter sido do vinagre - diz o Ricardo meio encolhido. - Do vinagre??? Do ... eu não acredito, juntaste vinagre? - Daí a agressividade anormal do produto. Não estava presvisto que o concentrado tivesse um efeito tão agressivo para a vítima - diz o Francisco que continua - a intenção, é inventar um produto que sirva as necessidade das forças de segurança, imobilizando o alvo, mas também é minha preocupação que o alvo (o marginal, o infractor, o delinquente), não seja vítima de agressão desnecessária. Já pensaram que um agressor muitas vezes pode ser alguém com problemas mentais e que é necessário apurar com calma a responsabilidade antes de atirar a matar? Os colegas estavam imóveis e calados a escutar o Francisco e a sua capacidade de perceber uma questão que no fundo tem tanto de óbvio que parece inquestionável. - OK, então vemos ter que tornar o concentrado menos agressivo, retirando-lhe o vinagre - diz o Valter. - Eu acho que deviamos ir ao hospital - sugere a Ana - no fundo, devemos uma explicação ao vizinho Piloto. - O senhor chama-se Basílio - diz a Joana - e também acho que deviamos ir falar com o senhor e pedir-lhe desculpa. Os rapazes olharam uns para os outros e sem dizer nada, via-se nas suas expressões, que achavam que as moças tinham tido um ataque de senssibilidade feminina. Não tiveram no entanto coragem de contrariar a ideia. - Acho bem - diz o Francisco - até porque o vizinho parece-me ser uma pessoa simpática. - Encontramo-nos na paragem do autocarro às duas da tarde - diz a Ana. Os moços saíram dali, cada um para a sua casa, enquanto o Francisco se dirigiu para o seu laboratório e com uma pequena porção de ranhoca, ensaiou várias vezes o concentrado pesando cuidadosamente os ingredientes e verificando os tempos de reacção e a ordem de adição. Registou tudo num pequeno caderno pautado e ensaiou várias vezes a reacção do concentrado, em diferentes circunstancias e em diferentes objectos.