Ao entrarem no portão de peões do hospital e percorrendo o longo passeio com laranjeiras até ao edíficio principal, ficaram parados a ver o aparato que cinco ambulâncias, todas juntas, faziam ao chegar. - Deve ter sido grande acidente - diz a Ana. Antes de entrarem no portão destinado às visitas, ficaram absorvidos pelo aparato que a situação provocou na entrada da urgência, - Vamos espreitar! - Não Francisco, é melhor não, está muita confusão e vamos atrapalhar. Enquanto a Ana diz isto, já todos se precipitam na direcção da urgência do hospital. São travados pela imagem de um politraumatizado que ao ser retirado de uma das ambulâncias, amarrado à maca, completamente em sangue gritava desesperadamente. De outra ambulância, saía um polícia, com o boné em cima da maca e levava uma máscara de oxigénio. - Esperem! - insistia a Ana. Enquanto não se afastavam, ouviam os comentários de bombeiros e pessoal médico. - Foi uma confusão num centro comercial, um grupo de marginais, deu origem a uma confusão tal, que ao assaltarem várias lojas e agredindo várias pessoas, fizeram com que se gerasse pânico, daí o elevado número de feridos. O polícia que se encontrava no local, não conseguiu evitar o tumulto e acabou ele por ser também apanhado pela enorme confusão. - Vá rapazes afastem-se daqui, não atrapalhem! - interviu um outro polícia que ali estava. No elevador, iam mudos. Atravessaram um longo corredor com um detestável aroma a éter, que o Valter logo de início se apressara a identificar - este cheiro é do éter. Aproximaram-se de um pequeno balcão, onde uma senhora aparentado mau feitio, não perguntou nada, tão pouco olhou para eles. - Por favor, dizia-nos onde é a cama 37? - Ao fundo à direita e só podem entrar dois de cada vez - disse a mulher para a Ana, que era a que estava mais próxima do balcão. O miúdos organizaram-se e entrou o Francisco com o Valter. Ao chegarem à cama, verificaram que estava vazia. - Tu queres ver que o homem atou os paus?! - Disse o Valter. Quando regressavam, batem de frente num homem corpulento e em pijama, com três iniciais inscritas no bolso superior, "HDB". - É o senhor Basílio, não é? - Pergunta o Francisco. - Sou! E vocês quem são? - Nós somos seus vizinhos e temos uma longa história para lhe contar - diz o Valter. - Fomos nós que provocámos o acidente de que o senhor foi vitima. - Como assim? - Pergunta o homem. - Sabe, nós somos 5, estão mais três colegas nossos lá fora. - Ah bom, nesse caso, vamos para outro sítio onde podemos estar todos juntos. Saíram da enfermaria, apresentaram-se e seguiram para uma sala, onde algumas mesas e cadeiras permitiram que se acomodassem. - Muito bem, então a que devo eu a visita de um grupo de jovens tão simpáticos - pergunta o senhor Basílio. Como de costume, a Ana com o seu ar responsável, dá início à conversa. - Trata-se de um projecto, que resultou numa fatalidade... A hora da visita acabou e eles lá continuavam, esquecidos, todos concentrados na conversa da Ana. - Eu não acredito no que estou a ouvir, não pode ser! Diz o homem quase a gritar. O Valter faz um gesto para se levantar, ao que a Ana responde com um puxão que o faz sentar de novo. - Mas isso que vocês me estão a contar é inacreditável. Os miúdos estavam com medo da reacção do homem. - A quem é que vocês já contaram essa história? - Ninguém sabe, a não ser a minha avó, que consegue adivinhar tudo o que eu faço lá em casa - responde o Francisco. - Óptimo! Eu conto ter alta hospitalar amanhã. Talvez vocês não saibam , mas eu sou piloto da Força Aérea, sou oficial superior e gostava de vos propor que apresentássemos o vosso projecto a um colega meu. Ele trabalha nos serviços de engenharia aéronautica, eu vou falar com ele e talvez seja a pessoa indicada para vos ajudar. Os miúdos olham uns para os outros, sem perceber se aquilo é bom ou mau. - Preciso de pelo menos um contacto. Eu sou a que moro mais próximo do senhor, moro no número 12! - diz a Joana. - Óptimo! Não imaginam o quanto estou contente por saber que o que me aconteceu, vai ser transformado em beneficio para a sociedade. A vossa ideia é de facto fantástica e tem pernas para andar. O grupo saíu dali com o ego reforçado, rindo e falando alto, não pareciam os mesmos rapazes que há duas horas atrás, entraram por aquele portão. - O último a chegar à paragem do autocarro é um "ganda ranhoso"...