A galinha Inácia, como qualquer galinha vivia num vulgar galinheiro com outras galinhas. Certo dia logo pela manhã grande rebuliço levou a que ela mais umas quantas galinhas fossem apanhadas e colocadas numa gaiola, sem que percebessem o que se estava a passar.
O homem conduziu a carrinha até à cidade, onde habitualmente vinha fazer o mercado todos os sábados. É um mercado movimentado junto ao castelo, onde as pessoas tradicionalmente acorrem para comprar os produtos dos camponeses da região, frutas, produtos hortícolas, animais vivos, vende-se um pouco de tudo o que a terra dá, a preços e qualidade mais atractivos do que nos hipermercados.
A galinha Inácia lá estava com as suas amigas, dentro da gaiola em cima duma carrinha de caixa aberta. O dia estava meio chuvoso, mas isso parecia não prejudicar o normal funcionamento do mercado, feirantes e compradores levavam a cabo as suas normais tarefas de vender e comprar.
Alice, uma menina de três anos que apenas conhecia galinhas de livros e de desenhos animados, ao passar junto da gaiola ficou pregada e encheu o espaço à sua volta de interjeições e admiração.
- Oh pai eu quero uma galinha, compra uma galinha...
Esta agora, batatas, laranjas, couves era normal, mas uma galinha viva não estava no programa, pensou o pai.
- Quanto custa uma galinha, perguntou o pai da Alice ao aproximar-se da gaiola. A menina tremia de emoção. - Pode ser a pedrês pelada. O homem atou um cordel em volta das asas do bicho e respondeu, não senhor ainda não põe mas não há-de faltar muito.
Já no carro e de regresso a casa o pai ia pensando de que forma a galinha haveria de chegar a cabidela, pois em casa não havia lugar para a galinha a não ser na panela. Mas a Alice reproduzia uma emoção tal, que deixava antever um problema difícil de resolver.
Lá em casa já havia um cão e um gato e à falta de melhor, a galinha Inácia foi cuidadosamente apresentada ao Calito (o cão) que sem perceber bem que bicho era aquele a acolheu no canil, com uma indiferença preocupante.
A galinha foi de repente a atracção de toda a família e sem descriminação de espécie ou raça, não se podendo dizer de cor , pois o cão preto, o gato da mesma cor e a galinha pedrês, quase preta, entenderam-se lindamente. A Alice de vez em quando pedia para dar "miminhos" à galinha e esta agachava-se e aceitava as festas.
Já à mesa, o tema de conversa era a galinha. -Será que vai pôr? -Se calhar já é velha! - Não, é novinha está muito redondinha vai pôr sim (dizia a mãe). - Temos que arranjar um ninho. - E uma caixa com areia. E a avó com a certeza de quem em tempos criou galinhas, afiançou que iria mesmo pôr e já não tardava muito. - Temos que ir inscrever a galinha na Junta de Freguesia, é obrigatório por causa da gripe das aves. Disse o pai.
Depois de alguns quilos de milho comprados, de muito excremento de galinha apanhado, os três bichos dormem agora juntos. O Fitas (o gato), dorme no ninho; A galinha Inácia, dorme no poleiro, construído logo no primeiro dia e o Calito, vai aturando isto tudo no seu sítio de sempre de repente transformado em "gatilheiro", uma mistura de gatil, com galinheiro .
A Inácia está agora mais longe da cabidela, já põe. O primeiro ovo apareceu partido debaixo do poleiro, o bicho talvez nem tenha percebido o que lhe estava a acontecer e arreou o ovo mesmo sem descer do poleiro. Até o gato já percebeu que agora tem que se levantar mais cedo do ninho, para dar o lugar à Inácia. A Alice delira com os ovos da sua galinha pintadinha e na sala do infantário todos conhecem a história da galinha Inácia.
Rua do Restaurante "O Tamuje" (1965)
Nesta rua situa-se hoje a casa museu de Mário Elias, Artista e pensador da Vila (1951)
Esplanada do Café Guadiana (1951)
Bombas de gasolina (1960)
Café Guadiana em época mais recente (1965)
Fotos cedidas por Humberto Serra
As pessoas passam e os sítios ficam.
Café Guadiana em Mértola em meados do século passado.
Foto cedida por Humberto Serra
Durante as obras que a EDIA tem levado a cabo para a construção dos canais de rega do Alqueva, apareceram junto a Trigaches uns misteriosos buracos, que fizeram parar as obras. Estes supostos achados arqueológicos , apresentam-se a poucos centímetros da superfície, têm a forma de um pote e foram rigorosamente esculpidos na terra não se sabe bem com que objectivo .
Existem "buracos" de diferentes tamanhos, mas sempre com a mesma configuração.
Não consegui apurar se continham algo no interior.
Será que serviam para outros povos que habitaram a região, guardar cereais ?