Cabe tudo no Alentejo: a planície, as imagens tórridas e áridas, a neve, o mar... ... ou imagens bucólicas como esta.
Eu teria quatro ou cinco anos, sei que ainda não andava à escola. Os meus pais trabalhavam fora, nas campanhas do tomate e eu ficava ao cuidado dos meus avós maternos. Os meus avós viviam num monte e é daí, desse espaço, que eu guardo as primeiras imagens de infância. O monte ficava a 6 ou 7 Km de distância da aldeia mais próxima, daí que passava muito tempo sem ver mais ninguém a não ser os meus avós, digamos que, de certa forma, era um pouco bicho do mato. O meu avô trabalhava num monte vizinho, que talvez ficasse a uns 2 Km de distância e era eu que normalmente ia levar-lhe o almoço. - Vai filho, leva com cautela para não entornares! Dizia a minha avó, enquanto me entregava uma marmita de esmalte azul, com o almoço do meu avô. Eu era um bocado cagarolas. As lagartixas, os trovões e os aviões, eram os meus grandes inimigos. Naquele dia, eu já tinha passado a zona da horta e iria talvez a meio caminho, quando passa um avião militar a jacto ( ou alfa não sei quantos), num voo razante e barulhento que me fez estremecer... e de repente outro, ainda mais baixo e mais barulhento, não tardou que começasse a correr, completamente apavorado. caí, a marmita bate no chão e do almoço não se aproveitou nada. Ainda estava no chão e a marmita ali perto da minha cabeça, ainda deixava ouvir os estalidos do esmalte a saltar, tal foi o porradão que deu numa pedra. A minha avó fartou-se de ralhar. O almoço que estava reservado para nós, foi para o meu avô e fez salada de laranja com bacalhau assado para nós dois. Não sei se a salada de laranja foi um improviso de extrema necessidade, mas o que é facto é que nunca mais comi nem vi tal receita.