Era criança e brincava na rua, quando ouvi a palavra revolução, interpretei os sinais nos rostos da minha mãe e nas vizinhas e fiquei confuso. A Aldeia tinha recebido há pouco tempo um filho morto em África e justamente na minha rua havia três militares no ultramar: O "Pinguinhas", "O Zé Belo" e um filho do "Seca Adegas". Percebi depressa que seria bom, pois iria permitir que os soldados regressassem, restituindo a tranquilidade nas famílias às quais a guerra arrancara partes de si próprias. Mais tarde recordo-me de ouvir falar da chegada de mais um navio, e dias depois da chegada do "Pinguinhas", que por ter uma namorada que eu achava bonita, é a imagem que guardo melhor. Mais tarde na fase conturbada da Reforma Agrária, lembro-me de ver a minha aldeia cheia de militares por causa da herdade de Cujancas. Despertei para a política já em liberdade, não concebo a vida sem liberdade. No entanto, reconheço a necessidade de continuar a lutar por valores que são seguramente essenciais em qualquer sociedade moderna, justa e que coloque o interesse comum à frente dos interesses particulares.